domingo, 27 de junho de 2010

Ode à Poesia


Te encontrei num estado de coma,
Graça, de sítio, regozijo.

“Vi um gato no mato”
Contente todo; oprimia um rato.

E por que não?!

Dúvidas? Um caminhão!

Que venham Lorca com suas bodas,
E auroras de Nova York,
Neruda com suas “odas”,
Quintana, em meu quintal.

Que venham Carlos du Monde,
E de Andrade,
O mago Sará salgar minha dor.
E tragam agregado o Matos, mão-de-agarra,
Gregório que ligeiro trepou.

E que venham Waly, Do Vale e Gonzaga do Baião.
E tragam o canto da Cora, que cora Carolinas,
Toquinhos, Buarques, Djavans.

E que venham também Vinícius – salve o poetinha! –,
Manzoni e Leopardi, num Infinito Cinco de Maio.

Que venham Amado, Molière e Cecília,
E na luz fosca do crepúsculo
Misteriosas Clarissas.

Que venham Lenons,
E McCartneys no futuro.

Que venha Wilde, irônico,
E a poetisa também
“Menina sapeca levada da breca”
Que outrora viveu em mim.

E que venhas à luz tu, minha ode,
Na simplicidade das coisas,
Na força indomável do amor.

Cansada, deitei-me a teu lado
E num mundo maravilhoso,
Por um quarto de noite
Me encontrei.
Poesia gera poesia...
Acordei e o sol brilhava.
Com um beijo e carícias te despertei.
Por isso decidiste ficar.
Helena Frenzel
Publicado também no Recanto das Letras em 27/06/2010
Código do texto: T2343687






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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Essa Paz...




Sim, essa paz pura desejo ao mundo, a você e, principalmente, aos meus amigos.

Utopia, eu sei... Mas sem utopias, ao que parece, não se vive.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O Caso dos Buracos



Aconteceu em Fufu Lalau, povoado apegado a Suvaco da Cobra, cidadezinha onde nasci. Foi que, numa certa época, de um dia pra outro, a falação no vilarejo era um ponto só: o mistério do buraco branco. Mió dizer os buraco, já que era mais de um só. Diz que todo mundo via: mulher, home, minino, véi. Se duvidar, inté cego. Os bicho, num se sabe, pois que num sabem falar os bichim. Pur mais que me isforçasse, eu era um dos poco que num cunsiguia ver. O caso dos buraco saiu inté no Fanático, programa de tv semanal – se pega cum a parabólica. Veio gente do mundo intero, e no meio deles muitos cientista, pra tentar disvendar o mistério dos ditos buraco. Tudo começou com Tonha de Zezinho. Eu sei disso porque tava lá passano féria e ela é minha tia. Um dia, ela acordou, deu de cara com o seu buraco no teto e se danou a dizer que tava veno maravilhas. Tudo branquin; dizia que via cidades, mundos e gente de cristal. “Quem tem olho vê!” -- falava quano zombavo dela. De Tonha pra Zezinho, Zé do Corvo, Maria Juvenilso e todo o vilarejo cumeçar a ver, ói que foi tudo um piscar de ôio só. No outro dia o vilarejo intero diz-que via, cada um o seu próprio buraco, claro. Mas todos viam. Logo apareceram as profecia: “Eu disse, num disse? Final dos tempo!” Pânico geral. Quem vendeu, vendeu; quem comprou, comprou. Quem deu, deu e quem quis se confessar, se confessou. Era mais quem pidia perdão (me alembro que muita poca gente se importava em dar, só quirio receber). Nunca se viu tanta roupa suja, junta, sendo lavada em plena praça pública! Eu caçava meu buraco e chegava a me disesperar. “Ai, meu Deus, num vejo nada! Quer dizer qui num vô pro céu?” Me danava a rezar pensando nas peninhas da mia alma. E nesse meio-tempo, trabalhavo os cientista. Todo dia eu me angustiava: “Por que esse povo todo vê e eu não?” No Fanático, um cientista disse que pudia ser coisa da água do rio. Se fosse isso, agora tava tudo ixplicadinho: eu tinha tanto medo de pegá di novo barriga d’àgua o candiru, que nem pensava em meter sequer a ponta do dedo no riozinho. Um outro cientista era d’ua outra opinião: os buraco branco vinho de uns buraco maior, chamado negro. Esses que quano perdiu os cabelo se danavo multiplicar. Mas essa hipótesis -- eita nome difícil! -- era difícil de provar, pur isso ficaru cum as água do rio mermo. Fuçaro, fuçaro e discubriru uma fábrica clandestina, um lugar onde preparavo essa coisa de droga pra vendê e jogavo os resto no rio. A tal da substância cumé mermo? alucinógena? quasi qui num sai, minino! era o que fazia a gente fufu-lalina vê os buraco. Uma vez isclaricido os mistério, foro tudo simbora de Fufu Lalau, que virou um ponto branco no tempo e no ispaço. Demoró um poco ainda pra gente de lá se isquicer dos confessado e a vida vortá pro normal. Mais cum poca eu vortei pro Suvaco e o no caso dos buraco -- branco, negro ou cor-de-rosa -- nunca mais ouvi falar.




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Revisado em 18.09.2010






Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 16/06/2010
Código do texto: T2322409



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sexta-feira, 4 de junho de 2010

Entre iguais ou muito parecidos


Lá fora o vento embola uma árvore e cá dentro emboloro eu. Esse ar abafado, de livro antigo, me embriaga e agrada. Tenho andado sem rumo, por aqui e por ali fornecendo idéias insólitas, inspiração. O ruído do lápis contra mim, no papel, me fere -- todavia um mantra para meus ouvidos. Encerro-me nesta biblioteca, nesta estante, neste livro. Falta-me coragem para muitos capítulos mais. Quero fugir do que é óbvio, claro. Devo ter cuidado com o embaraço -- não porque seja grávido, muito mais pelo emaranhado de situações. Sei que o vizinho de página me ouve; e eu a seus suspiros. Queria tapar-me os ouvidos, não dá. Falta-me autonomia, e mãos. A coluna de quem me sustenta agora balança, e com tinta me escreveu no tempo, para desacelerar. Não é assim tão difícil, muito menos impossível. De fato, quero tocar em temas movediços, mas me falta coragem na hora ha-gá. Não fui escrito para agradar quem quer que seja ou queira ser: isto me foi dito pela dona da criação. Também não para causar desgostos, desilusão e coisa e tal. A adolescente fala alto, contempla o mundo arrogante do alto da ponta do seu nariz, por trás de minhas orelhas, e fala pela minha boca. “Estou com saudade da pena que me pariu”, isto ela me fez dizer. “Que pena me dá prender minha alma pequena, frágil, aprendiz” – e isto também. Sinto falta de um canto ou um muro para lamentar meus sentimentos mais profundos, aqueles impressos quando quiseram sair.

O que fazer para manter da pena a tinta, do papel a seda e da vida a chama? Descobri que necessito poesia, concentrar-me no sonho e passar ao largo da vida, ouvir detalhes, ver acordes, inspirar criação à dona. E agora? Quem será que disse isto? Eu não sei. Arrisco ter sido eu, mas bem pode não ter sido: a dona, ou meu vizinho, a quem agora escuto com mais acuidade. Seu suspiro me parece tudo, menos felicidade, e o som da caneta, esfera girando pra lá e pra cá. Quem me vier a ler, por certo, em nada me entende. Será? Que monte então sua própria escala de gosto e interpretação; ou mergulhe em mim, que sou mar. Para mim, pois, pouco importa. Meu prazer maior já foi posto à prova, agora resta desfrutar. Não se deve parar o ato no meio do tempo, e por isto os marcadores. De todos os lados rompem críticas, pareceres e opiniões para selar o meu destino. O que preenche meus vazios é uma busca por clareza sentida, sonora, mergulho na imensidão. Dizem que o adjetivo é um bandido e o processo, sinto, concentra-se nas minhas ações. Faltam-me pausas, sobra pouco tempo para respirar, como quem corre da morte, da angústia de não parar jamais. Se me ignoras, encerra-me no livro e jamais retornas a abrir, meus segredos mais profundos, esses -- juro! -- jamais revelarei a ti, pois como tu, sou só mais um -- personagem.


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Revisado em 18.09.2010
Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 04/06/2010
Código do texto: T2299732

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Autor e narrador: não confundir!

Novo artigo (Literatura) no Recanto:

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Por trás da arte muito trabalho

Alguns pensamentos de final de tarde, no Recanto:

Por trás da arte muito trabalho



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Escritos


Ciência se faz de observação minuciosa. Queria idéia melhor? Ninguém melhor para relatar de si mesmo que não a própria cobaia. E assim, de graça. Avós falando de netinhos, filhos de pais, e pais de filhos, namoradas de namorados, atuais de ex-, patrões de empregados e por aí vai. Você pensa que destrói de fato algo quando o joga no lixo? É daqueles que confiam em leis? Quantos segredos, planos, pensamentos? E idéias, quantas idéias? Não, estudiosos de comportamento humano não perderiam tempo precioso com isso, não... A menos que... a menos que alguém esteja aprendendo de nós! Somos tão fáceis de manipular, um elogio aqui, outro acolá, importante é nos fazer pensar que somos mesmo importantes. Coincidências? É tudo uma questão de algoritmos, pois os dados estão todos aí, à mão. Olhe, interrompo agora. Desligo ou vão desconfiar! Para seu próprio bem não ponha essa mensagem no


A jornalista continua desaparecida e, fora a certeza de que o sol um dia vai se apagar, os investigadores só viam hipóteses e conspirações. O cristal de seu computador, lugar mais limpo. Nada, nenhuma anotação. Até que, no fundo de uma caixa de papelão, sob muitos livros, (que antigo!) encontraram cinco cadernos (cinco!) empacotados e cheio de manuscritos, também o não-concluído. Neles, chaves para o futuro e o sumiço. Escrever à mão, método tão antigo e em desuso: Quem pensaria? Por certo, não a corporação? Incrível! Como não perceberam? Até nisso ela não se deixara enganar.

E o que estava escondido, emergiu; como todos estavam imersos, fora os investigadores, ninguém percebeu.


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Revisado em 18.09.2010
Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 28/05/2010
Código do texto: T2285950


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