segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Últimas 'más allá' de Fufu Lalau

Aviso aos navegantes!








Por ora: revisando escritos; também a vida... - Comentários no Recanto reativados.



A quem me visita durante este período off para manutenção, muito obrigada.
Um abraço fraterno, 'inté', saudações! :-)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O Engano

Enganar-se é humano, assombrosos são os efeitos colaterais.

-- Sua consulta não è às doze, e sim às doze E MEIA -- disse a recepcionista.
-- Tem certeza, minha filha? -- perguntou Edite.
-- E não ligaram pra senhora não? --  disse a moça num piscar, e por cima dos óculos.
-- Antes de ontem alguém me ligou daqui, sim, mas não recordo ter ouvido doze E MEIA.
Sem mover os olhos do monitor, a moça sugeriu:
-- Vai ver a senhora não entendeu O MEIA.

Sim, pode ser; mas por que ela não entenderia, meu Deus? Estaria escrito em sua testa que tinha problemas pra ouvir, ou entender?

-- Olhe, antes de ontem eu liguei para cá confirmando hora e dia, a pessoa que me atendeu disse que estava tudo certo. Ontem recebi nova chamada, confirmando a consulta para hoje... -- quis perguntar se a ligação não havia sido feita por uma outra funcionária, desistiu -- e não me lembro de ter ouvido doze E MEIA.
-- É que agora estão todos numa operação, parece que vai levar uma meia-hora pra acabar. Como a senhora está aqui no centro... bem poderia aproveitar o tempo pra ir ver as lojas, tomar um café ou pode esperar aqui mesmo, se a senhora quiser, claro.

E quem disse que ela gostava de café ou de vitrines? Se bem que...
-- Está bem, volto em meia hora.
-- Isso, em quarenta minutos! -- disse a moça apressadinha, a cara colada no monitor.

Não lhe agradava fazer compras, mas já que tinha que esperar aqueles TRINTA minutos, melhor era aproveitar. Numa loja, na seção de DVDs, concluiu entediada que ali não havia nada que lhe interessasse. Com certos filmes não valia a pena gastar nem tempo, dirá dinheiro. Olhou para o relógio e, contente com a passagem do tempo, pôs-se a caminho do consultório. Cinco minutos adiantados eram quase nada. Subiu o elevador, tocou a campainha e a porta não se demorou a abrir. A colega da recepcionista olhou-a, surpresa, e esta, como estava falando ao telefone, nem a viu entrar.

-- Obrigada, Seu Sandoval, disse a recepcionista antes de desligar.

Coincidência: nome de família igual ao meu, pensou Edite.

-- Sua consulta não è às doze E MEIA, e sim às três, disse a recepcionista, sem olhar, voltando a moldar a cara à tela do monitor.
-- Como assim?!, falou Edite, exaltada.
-- Dona Maria Sabóia é a senhora, não?
-- Meu nome é Edite Sandoval. -- disse séria.

Pelos olhos arregalados da mocinha, e o tamanho do mea-culpa que se seguiu, a colega se viu obrigada a interferir:
-- Dona Edite!, já lhe esperávamos, logo a senhora, que não costuma falhar... Só que sua consulta era às doze, a senhora esqueceu?
-- E eu estive aqui às DEZ para as DOZE! A mocinha aí me aconselhou a ir dar uma volta na cidade pois a consulta seria MEIA hora depois!

A colega olhou para a recepcionista, meio desconcertada, justo no momento em que esta soltou um:
-- Ai Meu Deus, foi a senhora?! -- mãos em concha tapando a boca oval  -- Até liguei pro seu marido pra saber por que a senhora não havia chegado... -- voltou a se mea-culpear, mas foi desencorajada por um grito, misto de medo e inquietação:
-- Meu Deus! Por que você fez isso? Por que você fez isso?? -- mãos na cabeça: -- Pai, perdoai-a, ela não sabe o que fez...

A colega olhou para a moça e disse algo numa língua estrangeira, o que a Edite soou como repreensão. Sabendo porém como as línguas são matreiras, preferiu não tirar conclusões. Não fosse a mocinha perder o emprego por causa disso, pensou, afinal de contas errar é humano... E então, falou a colega, -- Foi um engano, Dona Edite, desculpe. Por aqui, por aqui....

Edite se sentiu num enredo de conspirações, sem saber ao certo com que tipo de final. No entanto, deixou-se guiar até a sala de tratamento. O que será estava havendo ali naquele dia? Logo essa gente, que é sempre tão organizada...? Êpa! Antes de mais nada tinha que ligar para o marido e tentar desfazer a confusão.

Como tecnologia vale mais quando menos se precisa dela, para o mal dos pecados não teve como o marido atender o celular, só dava na caixa postal. Edite deixou mensagem rápida explicando o mal entendido e durante a sessão teve que desligar o seu. A doutora até puxou conversa, mas as sombras daquele estranho engano haviam tirado de Edite a vontade de sorrir. Pensava, resignada, no marido e, pior ainda, no que ele poderia estar pensando de toda aquela confusão: que nessa idade agora dera para mentir? Que tinha ali a prova? Que o estava enganando e ele já sabia? Que fora pêga com a boca na botija? Que só queria agora ver o que ela iria inventar daquela vez, bandida? Edite conhecia bem o marido e sabia que não adiantava argumentar. Estava armado o circo, selada a confusão e ateado o destino. Terminou a sessão daquele dia. Ao passar na recepção para pagar a conta, no meio de mais uns mea-culpas, a mocinha lhe perguntou se desejava marcar a próxima consulta.

-- Pelo sim, pelo não, veja aí um dia, minha filha.
-- Dia 16 do mês que vem, de novo às doze E MEIA está bom pra senhora?
-- Está, minha filha, está... -- respondeu Edite -- e se não estiver mais até lá... bem, ligo antes para confirmar, como sempre... a menos que algo me aconteça! -- completou.
-- O que é isso, Dona Edite, não vai lhe acontecer nada não! Devemos pensar sempre positivo -- disse a mocinha emendando seu melhor sorriso de gato-zebra: cheio de dentes cerrados, branquíssimos!

Para não encompridar conversa, até mesmo porque não fazia o menor sentido, Edite pegou o recibo, o lembrete da próxima consulta, despediu-se e saiu. Daquela vez, ao invés de dizer “Até a próxima”, como sempre fazia, disse, timidamente, “Tchau”. E aquela foi, para as duas, de fato, um último engano, a ÚLTIMA vez.




Nota: este conto é fruto da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes e situações na vida real é pura coincidência.

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Revisado em 18.09.2010
Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 09/09/2010
Código do texto: T2486917

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domingo, 5 de setembro de 2010

Perguntinha...

Será que os grandes (autores) já nasceram pensando que eram grandes, ou se tornaram grandes pois nunca chegaram a pensar assim?


A quem me ajudar a responder, muito obrigada.
Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 05/09/2010
Código do texto: T2479243


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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Um texto também para mim

Meu colega Ailton e suas reflexões em Ler literatura...
Independente de ter sido resposta a um comentário meu, recomendo este texto pois gostei muito e concordo com as idéias. Dê uma conferida!

Um abraço fraterno.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Estudar na Alemanha - A quem interessar possa...

Pra quem já está aprendendo (ou deseja aprender) Alemão, uma temporada na Alemanha é indispensável. Aliás, fundamental para aprender um idioma é estar imerso em lugares onde o dito seja 100% usado. Pode-se até aprender idiomas passando a vida inteira em salas de aula, ou estudando sozinho. Para mim, no entanto, práticas de imersão não podem faltar.

Pela minha experiência com o Alemão, diria que de 3 meses a 1 ano dá pra se aprender muita coisa, não só do idioma, também do povo e do país. Não conheço outra escola que não uma do Goethe-Institut, a que freqüentei. Só posso dizer que o método deles funcionou comigo, e muito bem. Jamais esquecerei dos seis meses de curso intensivo, das primeiras situações “pra-valer” em Alemão.

Comecei a estudá-lo ainda no Brasil, em Brasília, com uma professora particular alemã-brasileira que se tornou minha amiga. Com ela, aprendi as primeiras regrinhas de declinação e “muchas otras cositas más”. No entanto, quando desembarquei em Frankfurt, pela primeira vez, tive a sensação de que não entendia nem ao menos “Guten Tag!” (Bom dia!). Vai ver pelo pânico. Só sei que essa sensação de “num tô intendendo nada” me perseguiu por um bom tempo, mesmo depois dos seis meses de curso na Alemanha.

Pelos anos que vivo aqui, hoje sinto-me bem mais segura, mas não me atrevo a dizer que domino essa Língua. Compreendo-a e consigo me comunicar muito bem, mas produzir textos em Alemão ainda é um problema. Meus textos, por mais que me esforce, ainda têm muito “Akzent” (sotaque estrangeiro, como se diz por aqui). E talvez esse sotaque eu não queira perder jamais, pois é parte da minha identidade cultural.

Vir para a Alemanha sem saber “nadica de nada” da Língua, com muito ou pouco Inglês na bagagem, até é possível, mas não recomendaria. Nem todo mundo aqui sabe falar Inglês e, diferente de outros lugares, saber Inglês não parece ser obrigação, nem mesmo nas repartições. Grandes centros como Frankfurt, Berlim, Munique são exceções, claro. Resumo da ópera: com Inglês “a pessoa até se vira”, melhor mesmo, porém, é saber um pouco de Alemão.

Em geral, estudar na Alemanha pode ser uma experiência muito positiva em todos os níveis: cursos de verão, graduação e pós, um sabático ou, simplesmente, uma visita pra ver como as coisas funcionam. A Alemanha é um dos destinos mais procurados por estudantes de várias partes do mundo, talvez pelas taxas estudantis, muito mais baixas se comparada a países como Estados Unidos e Inglaterra.

Como me disseram certa vez, para estudar se consegue visto sem problemas, já para trabalhar... Como em outros países industrializados, a Alemanha também luta contra o desemprego, e por aqui a grande maioria dos profissionais possui muito boa formação. Não disse que é impossível conseguir visto para trabalhar, e sim que é muito difícil, dada a conjuntura atual do país. Se bem que gente que nasceu de quina para lua tem em todo lugar e, quem não arrisca não petisca, não?

Em suma, quem deseja vir estudar “pras bandas de cá” deve tentar se informar muito bem. Mais indicado é buscar contato com pessoas que vivem ou já viveram no local-alvo para não cair na armadilha de velhos e novos estereótipos. Há vários brasileiros espalhados por aqui, e muitos são estudantes.

Sempre fui muito bem tratada, o povo é, em geral, amável e bem-educado. No inverno pode fazer muito frio, é verdade, mas se pode agüentar. E para que não pairem dúvidas quanto à receptividade das pessoas, não há nada em mim, fisicamente, para que me confundam com uma “típica” alemã, ou seja, não sou branca, loura, muito menos alta, tenho sotaque e olhos que não são azuis.

Mais informações sobre Viver e Estudar na Alemanha no site do DAAD, do Instituto Goethe ou de outras instituições alemãs. Em geral, ao que parece, as cooperações Brasil-Alemanha têm sido muito produtivas. Por ora, é isso aí!


Um abraço fraterno :-)


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Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 01/09/2010
Código do texto: T2471704



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