sexta-feira, 25 de março de 2011

Algo que gostaria de saber ensinar


“O que tenho de mais valioso para deixar a meus filhos é ensiná-los como sobreviver às frustrações da vida, já que destas ninguém pode se livrar.”

Estas foram, mais ou menos, as palavras da irmã de uma amiga, ao conversamos sobre filhos e educação.

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Entre a tripla catástrofe no Japão (terremoto, tsunami e contaminação nuclear ao mesmo tempo) e as recentes rebeliões nos países árabes, penso também naqueles que não têm conseguido forças para vencer as próprias frustrações e estão prestes a transformar (ou já transformaram) suas vidas (e a dos outros) numa tragédia singular. O que dizer a alguém que esteja passando por algo assim? “Crie vergonha na cara!”? “Olhe o mundo ao seu redor!”? Acho que isso de pouco adiantaria. Falar de como vencemos (ou não) as próprias frustrações poderia até ser recebido com revolta ou agressividade: “Você não faz idéia coisa nenhuma de como me sinto!”. “Pode até ser que eu não entenda, mas estou tentando entender e sentir junto. Eu me importo sim!”, eu poderia responder. Um amigo, certa vez, me disse que o ruim de nossas experiências é que elas ou só servem para nós mesmos, ou chegam tarde demais, geralmente quando não precisamos mais delas. Há momentos na vida em que, por pior que isso possa parecer, a única atitude que nos resta é ficar quietos, porém deixando a pessoa saber que nos importamos e que estamos dispostos a ajudar se ela quiser, ainda que corramos o risco de, no dia seguinte, encontrarmos numa página de jornal, ou ouvir de alguém: Fulano desistiu da viagem no meio do caminho e saltou do trem. Assim sendo, prefiro perguntar agora “Por quê?” do que esperar para perguntar depois, quando nada mais se puder fazer, muito menos encontrar uma resposta que não seja pura especulação. Quando Robert Enke se matou, atirando-se na frente de um trem rápido em movimento, senti-me tão atingida que escrevi a respeito. Ele sofria de depressão, noticiaram os jornais. Escrevi ‘Competições’ (aqui classificado como conto) para trabalhar os sentimentos que me ficaram latejando na cabeça o dia todo depois dessa notícia, pra tentar entender; e olhe que não sou fã de futebol, muito menos o conhecia. Não seria muito difícil imaginar como me sentiria se isso acontecesse com alguém da família, amigo ou conhecido. Estando numa tal situação, por favor, pense bem: há gente que se importa sim e lamentará muito sua partida, e pôr fim à própria vida não é solução. Frustrações, dores e perdas vêm e vão, mas a sua vida, até conseguirem provar o contrario, é uma só e vale muito! Busque ajuda.


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Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 25/03/2011
Código do texto: T2870150

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