domingo, 30 de setembro de 2012

Uma crônica bem fofinha


Foto: HFrenzel

Não há receitas para uma boa escrita, mas pra quem quer cozinhar uma crônica, aqui umas dicas: abra o jornal do dia e veja o que há de novo. Faça uns recortes, espalhe na mesa e deixe esfriar. Ligue o rádio, sintonize numa estação que lhe agrade. Se gosta de música, prefira a barroca, pois melhor estímulo aos neurônios estou pra ver. Pegue papel, lápis ou caneta e ligue para alguns amigos que há muito tempo você não vê. Bata uns papos gostosos, uns papos sinceros e interessados, e enquanto fala ao telefone vá rabiscando no papel. Ao terminar as conversas, junte os rabiscos aos recortes de cima da mesa e misture tudo bem devagar sem bater, para não empelotar. Quando a massa estiver consistente, ponha para cozer em banho-maria até que fique bem douradinha; apague o fogo e deixe esfriar. Para a cobertura, ‘ligue’ a internet, digite no google umas três palavras quaisquer. A terceira resposta que você receber será o seu título, com algumas pitadas de imaginação. Daí junte o título à massa cozida e ponha numa gaveta do refrigerador. Ao receber um pedido para crônica do dia, tire a sua da gaveta e revise-a muito bem. Em poucos minutos estará pronta para envio e aí é só servir para degustação. É fácil de fazer e não é calórica. Prove a receita e nos diga o que achou.




Crônica originalmente publicada no BVIW. Confira os outros textos e os comentários da rodada "Cozinhando uma crônica" aqui!

Escrever: o que tenho aprendido até aqui - VII





"Ninguém é escritor por haver decidido dizer certas coisas, mas por haver decidido dizê-las de determinado modo. E o estilo, decerto, é o que determina o valor da prosa" - frase atribuída a Jean-Paul Sartre em um artigo na Wikipedia. Não tive tempo de confirmar a validade dessa informação nem a autoria, porém a frase, por si só, é digna de nota, e por isso compartilhei.



sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Somos Amigos?


Foto: HFrenzel - "Um por todos e todos por um, ou ao contrário!"



Ontem, lá no site do BVIW, a colega Ana Toledo postou uma crônica questionando as chances de ainda fazermos amigos de verdade na era das redes sociais. Naturalmente sua crônica foi uma linda homenagem a seus amigos e amigas, mas não deixou de suscitar questões mais genéricas, atributo de toda boa crônica, aliás. 

Pois bem, penso que sempre é tempo de fazermos novas amizades se nos abrimos para tal, mas eu acho prudente e saudável ter certos critérios antes de sair por aí chamando todo mundo de amigo. Quando eu entrei no Recanto havia uma recantista que foi logo me chamando de amiga assim do nada, sem nem me conhecer. Eu, mais prudente, nunca usei o mesmo tratamento e fui deixando o tempo agir. Belo dia, por eu ter passado algum tempo sem visitar sua escrivaninha, ela me aparece e dá uma ‘bronca’ no sentido infantil de: “se você não me visita, eu também não!”. Como eu não ligo para essas coisas, segui o meu caminho e ela nunca mais voltou e eu duvido que continue me chamando de ‘amiga’, para alívio meu. Só um exemplo de como os relacionamentos são ‘fortes’ na rede. 

Eu costumo dizer que fora da família eu tenho 'contatos', 'conhecidos', 'conhecidos mais chegados' e 'colegas', dentre estes, ‘colegas mais chegados’, que são as pessoas com quem trabalho e partilho, pessoas pelas quais tenho um grande carinho, considero e/ou admiro; e tento não misturar os conceitos. 

Com formação em  Ciência da Computação não me vejo deslumbrada com a tecnologia, já que os cientistas trabalham para tornar realidade o que um dia foi ficção. Como o meu trabalho exige que eu passe muito tempo na rede, nada mais natural do que deixar os relacionamentos de fora, no campo real. Por outro lado, de um ponto de vista social e psicológico, vejo as redes sociais se transformando em agrupamentos de panelinhas e cada vez mais instrumento de bullying e exclusão, o que só me faz querer manter distância delas como pessoa privada e alertar para os perigos da exposição pessoal.

Recentemente abri uma conta no Facebook com o mesmo propósito de todas as empresas que eu conheço: anunciar produtos. E como o que eu venho produzindo se propõe a ser literatura, ainda que eu não o comercialize não posso me dar ao luxo de ignorar as mídias sociais, por mais que elas me aborreçam. 

Bom, é isso! Amigo, para mim, é todo aquele que já encontrei pelo caminho e, além das afinidades naturais, seguimos algum tempo dividindo um saco de pedras ou de algodão que tínhamos para transportar. Se você já fez isso, considere-se um deles, senão demos chance ao universo que ele conspirará a nosso favor. E ao invés de um saco de pedras, quem sabe não um caminhão de bits? Se você quiser ser meu amigo, é claro, mas se não quiser, sigamos em paz!





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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Ele chegou!

Foto: HFrenzel 2012




Quando o sol demorou a sair eu soube, o frio nos pés e nos ossos vieram me confirmar. Que ele havia chegado eu soube. “Chegou afinal”, falei. Assoviava o vento e a chuva fina dedilhava na janela a trilha do seu chegar. Assim eu soube, sonhei que ele estava chegando e quando acordei ele já estava lá, no ponto. Fui ao seu encontro logo cedo, ainda escuro. Sacola arrumada e sem desculpas, algum empecilho (?) nada, nada racional. De mãos dadas com os bolsos fui ao seu encontro. E ao ver-me saindo, com uma salva de folhas o vento me saudou: chuva natural de confetes, bela, cheirando a novo frescor, molhado, esperança desfalecida alegre, satisfeita por vê-lo chegar. Saí hoje cedo logo de manhãnzinha só para encontrar com ele e saciados do tempo ficamos sós, por um momento e um pouco mais. Então, maravilhado, cessou o vento por um instante e a espiar-nos, sorrateiro e manso, vimos o velho sol despertar. Final de setembro, quase, ele veio este ano. Mais tarde ou mais cedo, todo ano ele vem e fica três meses, renova-me as forças e então se vai. Eu o amo e sempre o aguardo na certeza bamba de que ele não falha e na esperança falsa de não sentir sua falta ao vê-lo passar.

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domingo, 23 de setembro de 2012

Pra Começar: Perguntas




A História humana começa nos porquês; 
já as da literatura nascem do ‘E se fosse?’. 
Não?




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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Eu e a Poesia



Foto: HFrenzel, 2012 - "Poesia busca flores; abelhas também"




Nunca me achei poeta mas Poesia sempre me acompanhou. Poesia da música, dos pássaros, concreta, dos seres, bucólica, surreal, fechada ou aberta e em todas as modas que a tentam enquadrar, em vão. De outros autores chego a lembrar de poemas inteiros mas pareço incapaz de recordar dos meus; por isso os releio, reviro e revejo, neles busco quem sou; e não por ter rima, ritmo, métrica, por conter figuras, linguagem ou som, ter ou não ser. Poesia foge de formas e quadrados, fala sentimentês. Autoridades afirmam que poetar é sagrado e poemas com Poesia é coisa rara de se ver; não entro em atritos, muito pouco sei. Por isso é que eu digo: Poesia eu não faço, eu brinco com versos, com coisas banais. Poeta, além de alguém que engravida versos, é alguém que aprendeu a enxergar. Não sei se enxergo, mas muito do que vejo eu rearranjo, repinto e o produto retorcido  —   a letripulia  —  compartilho se me apraz. Por isso às vezes emudeço quando me pedem para julgar um poema, de chofre, dizer se gostei ou não. É que estou já convencida de que Poesia não quer ser julgada nem perseguida, ela quer ser encontrada, e por acaso, entre o comum e o especial. 

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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Parabéns, Velhinho!

"Dê um sorriso só, sorriso aberto, sorriso certo cheio de amor" são versos de uma canção que me acompanha há mais de 30 anos. Um sorriso é sempre bom, um sorriso é sempre certo, evita muitas complicações.

E por falar em sorriso, o smiley está 'velhinho', completando 30 anos (leia aqui pra saber mais). 

Pois é, e pra comemorar eu não podia deixar de dar um sorriso, né?:


E pra quem acha que a Internet e seus símbolos ameaçam o futuro das velhas línguas, tem esse aqui também, ó:




Um abraço fraterno,

Inté!

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Felicidade por Direito?

Foto: HFrenzel, 2012


Nunca se falou tanto em felicidade como nos últimos tempos. A chamada Psicologia Positiva está aí pra confirmar. Os americanos há séculos declararam, e na Constituição, que todo cidadão tem ‘o direito’ de correr atrás da sua, persegui-la e capturá-la, sem mais. Seria esse o tão falado sonho americano? Não sei, não manjo de americanos, gosto mesmo é de filosofar. As crianças de uma geração após a minha já nasceram sabendo que têm direito a tudo, e que merecem o mundo a seus pés. Só que seus pais esqueceram-se de dizer-lhes que há também os deveres, e que pra tudo, até para a felicidade, há um preço a se pagar: trocado em esforços nada miúdos e acrescidas frustrações. “É impossível ser feliz sozinho”, nos diz a ‘Onda’ de Tom Jobim. Será mesmo? A felicidade começa em nós mesmos mas para que ela nos torne gente e faça sentido, estranhamente precisamos compartilhá-la: e quanto mais vazios, mais cheios. E lembrando versos de Solsbury Hill, de Peter Gabriel: "A LIBERDADE faz piruetas quando penso que sou livre", penso que, ironicamente, seus ‘primos’ devem fazer o mesmo, quando imagino que tenho direitos e sou feliz.


Crônica originalmente publicada no BVIW. Confira os outros textos e os comentários da rodada "Limites da Felicidade" aqui!


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domingo, 16 de setembro de 2012

Mistérios dEL AMOR


cianídrico:
certeiro
destino
de
amargo
amor


Pequena homenagem à grande obra de Gabriel García Márquez.




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terça-feira, 11 de setembro de 2012

Ah, é na Internet!


Foto: HFrenzel.


Quando digo que escrevo, é natural que me perguntem quantos livros já publiquei. E quando eu digo “sete”, ao completar com “E-livros gratuitos na Internet”, é comum ver uma expressão de surpresa dar lugar a um risinho e comentário: "Ah, é na Internet!". Como se trabalhos publicados na rede de forma independente não merecessem crédito porque não têm algum selo do mercado editorial. É compreensível, mas não deixa de ser tolo, uma vez que a liberdade que a rede nos dá e o controle sobre as próprias publicações é como nunca visto antes. Para os que têm e os que não têm interesse em comercializar suas obras, a Internet é ferramenta essencial e as famigeradas redes sociais idem, mas é preciso saber usá-las.
Desde 2008 passei a publicar minhas ‘letripulias’ em Blogs e até agora não achei lugar melhor, ainda mais em se tratando de literatura e arte, pois como sabemos, arte e livros não são parte da cesta básica da maioria dos mortais, o que é uma pena, pois a alma precisa das artes tanto quanto o corpo precisa de pão.
Parece que existe um preconceito muito grande (até mesmo uma certa campanha) contra Blogs e E-books, como se esse tipo de trabalho já nascesse torto, um filho bastardo sem linhagem editorial. É notório que muita gente põe na rede o que a privada rejeita, mas há coisas de qualidade muito boa, necessário é filtrar.
Por outro lado, desconfio sempre daqueles que, como o personagem de Borges em El Etnografo: “no descreía de los libros ni di quienes escriben los libros”. Que não se deve julgar um livro pela capa, ou seja, não confundir conteúdo com forma de apresentação, disso todo mundo já sabe.
Pra dizer a verdade, para esses tipos de comentários pouco ligo, a menos que venham de inesperado front, um front amigo ou julgado tal. Ainda nesses casos eu paro, penso e respiro, mas não sem me ofender, então jogo pro vento e sigo escrevendo, e o que eu achar que vale a pena publico, na rede, livre e sem complicações.





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domingo, 9 de setembro de 2012

São Luís do Maranhão - 400 Anos!


Foi ontem, dia 08 de setembro; tudo bem, fica a homenagem. 
Não te esqueço, São Luís!



Aí deu saudade...


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sábado, 8 de setembro de 2012

Bem medido e bem pesado a vida é cheia de bons pedaços


Foto: HFrenzel, 2008 - Trilha em Tenerife, Ilhas Canárias.



“Ah, Seu Moço, ainda tem um pedaço de chão!” Quando se ouve esta frase, pelo menos se sabe que é longa a distância a percorrer. Pior quando dizem “É bem ali, Seu Moço!” e esse “ali” nunca chega, quanto mais você avança, mais parece que o horizonte tem medo de você. E em se tratando de boa medida ou peso, intrigam-me as receitas passadas pelas avós: “Você vai juntando farinha até achar que está no ponto”. Quanta farinha? Ponto de quê, meu Deus? De cruz, de ônibus, de crochê? Para dar a perdidos um certo rumo, sites de culinária até proveem um conversor de medidas para ajudar: um copo americano, por exemplo, ou uma xícara de chá pode ser o mesmo que 200 gramas ou 200 ml, já um “copo de requeijão” vai depender do tipo, da marca e da região. Ao testar uma nova receita ou um novo caminho, a uma certeza se pode chegar: acertar o alvo pode render muitas tentativas e com muito pouca sorte - pra não dizer azar - quem sabe até mesmo um pedaço de chão, cavado, sete palmos acima ou abaixo do nível do mar.


Crônica originalmente publicada no BVIW. Confira os outros textos e os comentários da rodada "Pedaço de Chão" aqui!

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