Foto: HFrenzel, 2012 - "Poesia busca flores; abelhas também"
Nunca
me achei poeta mas Poesia sempre me acompanhou. Poesia da música, dos pássaros,
concreta, dos seres, bucólica, surreal, fechada ou aberta e em todas as modas
que a tentam enquadrar, em vão. De outros autores chego a lembrar de poemas
inteiros mas pareço incapaz de recordar dos meus; por isso os releio, reviro e
revejo, neles busco quem sou; e não por ter rima, ritmo, métrica, por conter
figuras, linguagem ou som, ter ou não ser. Poesia foge de formas e quadrados,
fala sentimentês. Autoridades afirmam que poetar é sagrado e poemas com Poesia
é coisa rara de se ver; não entro em atritos, muito pouco sei. Por isso é que
eu digo: Poesia eu não faço, eu brinco com versos, com coisas banais. Poeta,
além de alguém que engravida versos, é alguém que aprendeu a enxergar. Não sei
se enxergo, mas muito do que vejo eu rearranjo, repinto e o produto
retorcido — a letripulia — compartilho se me
apraz. Por isso às vezes emudeço quando me pedem para julgar um poema, de
chofre, dizer se gostei ou não. É que estou já convencida de que Poesia não
quer ser julgada nem perseguida, ela quer ser encontrada, e por acaso, entre o comum e o especial.
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