Foto: divulgação. Fonte: google.
Queria agora ter
mais tempo para escrever sobre este livro uma resenha, como ele merece; mas não
tenho nem terei em breve: tempo. E para não correr o risco de ‘esquecer’ minhas
impressões, registro aqui um comentário breve.
Esse romance de Mia
Couto é uma viagem poética, perdi a conta de quantas passagens marquei. Em 260
páginas, Mia nos conta a história de dois Marianos e uma família, dois homens
se explicando e buscando explicações um ao outro, ao rio, à terra, à família e a si
mesmos, uma história de todos nós, perdidos que somos no céu de ser humano e no
inferno de termos descoberto o ‘por quê’. Somos os únicos na Terra supostos
capazes disso, se ilusão ou fato, nosso conhecimento limitado não nos permite
saber.
Um rio chamado
tempo, uma casa chamada terra é poesia para pensar, um ensaio poético, se me
permitem dizer. Pensar por poesia soa contraditório, porque o poeta muito pensa
para fazer ao leitor sentido sentindo, mas poesia é sentido, também reflexão. E
esse livro nos apresenta esse pedaço de terra chamada Luar do Chão, uma ilha no
rio da vida, onde o sobrenatural se casa com o real maravilhoso na medida, sem
fantásticos exageros, e a narrativa nos permite ir entrando pouco a pouco nas
águas do rio, sentindo o corpo se adequar à nova temperatura sem temer perder o
chão, firme.
O enredo se revela
de modo natural e criativo e algumas partes não deixam de surpreender com as
elegantes explicações, plausíveis para o universo poético-fictício de Luar do
Chão, um pedaço desta África que o autor tão lindamente faz chegar a nós. “Os
lugares não se encontram, constroem-se” e Luar do Chão é exatamente assim. Se
tudo na realidade é construído, por que não na ficção? Li este livro
vagarosamente, saboreando as frases e a competência literária do autor. Para
quem deseja um mergulho tépido e prazeroso na magia da África e no lirismo do
português de Moçambique, este livro é uma ótima opção. Recomendo.