“"(...)
é preciso que o indivíduo não ceda às tendências egocêntricas e narcisistas
(...)"*. E me pergunto por que certas coisas hoje são feitas de modo tão
público. Os poetas do passado tinham, quando muito, só o recurso da correspondência
e se valiam muito mais das vivências e conversações privadas, levava-se muito
tempo para preparar uma única publicação. O fazer poético verdadeiro, na minha
humilde visão, requer tempo, privacidade, silêncio, ruminação interior, um
momento especial (será possível fazer poesia o tempo todo?). Mas as coisas
mudam e o que agora vejo são esforços de adaptação ao 'fazer poético' em
movimento, mas eu não sou literata nem pretendo tornar-me uma, sou apenas uma
pessoa que gosta de ler. “
Mais
tarde, completando:
“Estou
chegando aos 40, se Deus me der mais 20 anos terei condições de arriscar uma
classificação sobre os tempos atuais (risos). Que é a vez dos fragmentos e do
tudo 'rapidinho', isto está bem claro, mas ainda nos resta algum poder de
decisão, não sem sacrifícios. O poeta dificilmente vive no tempo da sua
existência, mas isto não significa que viva em constante alienação, talvez (os
poetas) sejam os únicos capazes de sobreviver a blecautes, que de tempos em
tempos se dão.”
*citando
trecho de e-mail de Marilú Duarte a Joaquim Moncks, publicado no status
INDEPENDÊNCIA E MATURIDADE, de Joaquim Moncks no Facebook. Meu comentário aqui foi levemente modificado em relação ao original.
"Fazer
literatura é muito mais do que buscar glamour. Fazer literatura é ousar, é saber
ser diferente, é buscar a perfeição, é amar e conhecer intimamente o nosso
idioma. O resto, se vier, é mera consequência."
Sergio
Carmach, autor de Para Sempre Ana. O trecho é parte de uma de suas publicações no Facebook sobre o Dia do Escritor.
"(...)
a escrita que ambiciona ser lida é como o envio de cartas a literatos
desconhecidos. (...) se os gregos não tivessem mandado tantas cartas para o
futuro, os romanos nunca teriam existido. Quem escreve, partilha sempre o que
vê e aquilo com que se cruza. É certo que pode descrevê-lo de formas diversas
mas fá-lo tendencialmente reinventando a realidade. O que não quer dizer que a
nova realidade descrita seja menos real do que aquela que se quis reproduzir
ficticiamente. Com efeito, na maioria dos casos, a ficção é apenas uma nova
forma de construir a realidade, uma realidade moderna, porquanto é uma
reconstrução do futuro pelo simples efeito de ter sofrido a intervenção de um
interlocutor a jusante. " A Cidade dos Sete Mares, Victor Eustáquio, pg. 55
Para juntar ao
papo, mais um atrevimento:
"(...) a
realidade que pensamos percepcionar, a realidade física e tridimensional,
reduz-se ao despotismo da sintaxe, à arbitrariedade das relações de
concordância e dependência incondicionais; uma realidade possível em que cremos
como certa pelas informações que nos são dadas pelos sentidos do corpo humano;
uma realidade ancorada na disposição estrutural mais ou menos ordenada e
harmoniosa, e igualmente funcional, de unidades, números, símbolos, como o
sujeito e o predicado, na linguística, orações sintácticas, que tanto servem
para as frases da linguagem como para as frases musicais.
Este é
o mundo cacofónico em que vivemos ou que, pelo menos, julgamos viver. Por mais
cantos e recantos que esquadrinhemos nas viagens que ao longo da vida vamos
fazendo, na redoma doméstica, local, próxima, com a qual temos a inclinação de
nos identificar mais facilmente, ou na aridez selvagem do globo terrestre,
percorrendo um conjunto indeterminado de pontos distantes na imensidão intercontinental,
não há forma de escapar. Nasce-se com a marca e com ela se coabita até ao fim:
a marca que nos caracteriza como seres de mumificação lenta", in «A Cidade
dos Sete Mares»
"Seres
de mumificação lenta", adorei esta descrição desde a primeira leitura de A
Cidade (sublinhei, claro). Abraços, Victor Eustaquio. Obrigada por enriquecer o
'papo'.
Estou
lendo um romance em que um dos personagens principais, uma escritora, comenta
esta mania que escritores têm de criar sempre uma história para 'embalar' tudo
o que desejam contar e questiona-se por que é tão difícil dizer a verdade, por
que não dizer, simplesmente, a verdade? Lógico que quem escreve sabe a
resposta, pelo menos uma: todos precisamos de histórias, cobertores de ilusões.
Dia
desses tomei um banho (tomo todos os dias, claro, mas desse dia recordo bem) e
quando estava terminado notei que havia lavado o cabelo com sabonete líquido e
ensaboado o corpo com xampu. Daí brotou a idéia para escrever Distraído. Hoje,
agorinha mesmo, pensando no gato, aquele que mia ou que está miando em
Português ou Alemão, ocorreu-me o mesmo: só notei que havia trocado os frascos
na hora de enxaguar. O que será que vai nascer disso? Espero que tenha cabelos
e uma boa história para contar. :-)
Mudando de assunto,
para descontração:
Minha filha tem
quase dois anos e outro dia tivemos o seguinte diálogo:
— Filha, mamãe te
ama.
Ela só me olhou e
eu continuei:
— Você nem sabe o
que é amor, né filha? O que é amor?
— Lavar carro. —
ela respondeu.
Para
alguns não deixa de ser, não é mesmo? Acho que ela já compreendeu sim o que é
'amor'.
Sobre
plágio, fico pensando: ao invés de perder um tempão tentando 'maquiar' idéias e
frases alheias para parecerem outras, por que não investir tempo e energia para
melhorar as próprias? Eu, hein?! Errar ao fazer os créditos devidamente, por
engano, vá lá... mas copiar descaradamente e ainda assinar? Pena que a pariu,
não?!