domingo, 5 de janeiro de 2014

Para ti, outra vez

Escrevi o texto a seguir em 2012, pela passagem do aniversário de uma grande amiga. Como não havia ainda compartilhado com outros amigos, aproveito a volta do calendário para publicá-lo aqui e renovar meus votos de Feliz Aniversário todos os anos e tudo, tudo de bom!

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Para Ti





Alegria, alegria, Isabel, porque: “o que Deus ordenou” teu nome significa, e vem de Elisabeth, nome de rainha, elischeba, nome hebreu. Alegria, alegria porque, neste ano de dois mil e doze, dos maias e dos incas, além de ti, aniversariamos também nós: há quase vinte anos estávamos para nos conhecer, após o Carnaval. E parece que foi ontem. Ah, recordações...

Metendo-me como meto-me a ‘gravarunhar’ de vez em quando, não pude deixar de ‘atentar’ um texto para a ocasião. Repito: parece que foi ontem, MESMO, até mesmo quando te tornaste mãe. Na época, confesso, foi difícil, para mim, entender a grande mudança e a constante falta de tempo que alegavas, por ter de sumir dos amigos, voltar-te para quem requeria cem por cento de tua atenção, e a teve, e tem: teu filho, tua família.

Pois bem, agora que também sou mãe compreendo-te perfeitamente. Com filhos, a coisa é assim mesmo: não se pode ter preguiça, não se pode dormir, telefonar e, logo no começo, por vezes, não se tem tempo sequer para escovar os dentes, tomar banho, ir ao banheiro; tem que se fazer tudo rapidinho, relâmpago! E família deve vir sempre em primeiro lugar.

Fecho os olhos, muitas vezes, e vejo uma noite: Araçagy, bar à beira-mar, um ventinho frio gostoso, Everaldo tocando e nós caetaneando músicas alheias, djavaneando Tom, Marisa e outros, sem nos preocupar os copyrights. O que fazer com as canções libertinas que, sem querermos, incorporam-se às trilhas sonoras de nossas vidas? Como pagar pelo pecado de poder ouvir e recordar? Das músicas bem conhecemos e respeitamos a autoria, e por serem parte das histórias das gentes cantarolamo-las sem pensar. “Um cantinho, um violão” (1), uma roda de amigos, e isso fizemos: cantamos o amor à vida, a alegria de celebrar.

E pra não dizer que não falei de caranguejos, de comer toc-toc e casquinha na praia, tens toda razão: é coisa cultural, estrangeiro não entende! Sem tirar a teoria ‘fookniana’ do preparo da casquinha: a velha debaixo da pia, depois de ter saído da cama, mastigando a massa que vai parar lá - DENTRO. Credo! Ridículo! E esses ‘ridículos’ só me fazem lembrar de ti, de nossa fala peculiar, da uni e dos domingos litorâneos com pizzas e sorvetões, da água de coco, do Reggae, da Crioula, do Boi e do Reviver, até mesmo da Maguinha, que César fez nascer (2).

Pesadelo então é acordar e pensar que nada disso tenha existido, que sonhei apenas, que... Mas deixo logo disso pois “na fotografia estamos felizes, são anos dourados!” (3), o que sela estas recordações, que são meu presente para ti. Não te ligo afobada pra desejar tudo de bom, mas deixo aqui um registro (para a posteridade talvez) do quanto ter amigos, amigos de verdade, é muito bom.

Feliz aniversário, Isabel, saúde, força e fé!

* Trecho de Isabella, Tom Jobim.
(1) Trecho de Corcovado, Tom Jobim.
(2) Referência à canção Maguinha do Sá Viana, de César Nascimento.
(3) Trechos de Anos Dourados, Tom Jobim e Chico Buarque.


Helena Frenzel


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