terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Do que estava escrito e do que se leu

Por Helena Frenzel

A escrita, para mim, é uma forma de manter-me atenta à língua, pois o desafio, a meu ver, é pôr no papel o que de fato eu quis dizer, e a competência lingüística, aqui não medida em anos (não ânus) ocupando bancos de escolas, porém no grau de intimidade com a própria língua, o quão bem se conhece os significados a ponto de, com as poucas peças que se tem, conseguir dizer exatamente o que se pensou, sem sobra nem falta. Difícil!

Certa vez, uma blogueira escreveu que ‘a pior coisa para um escritor era o leitor entender coisas que ela não teria dito”. E eu penso que literatura é justamente isso: textos que proporcionam múltiplas interpretações. Texto literário não é texto técnico ou jurídico, nos quais se busca o que uns chamam de texto ‘preciso’, uma única interpretação possível e só.

Um exemplo seria alguém escrever a frase solta ‘vamos jantar vô?’, ter pensado ‘vamos jantar, vô?” e esperar que o leitor interprete unicamente como um convite. O problema não é o convite, mas o prato principal, assumindo que o canibalismo é sempre atual. Há pouco li num jornal o caso de um casal (foi de propósito a construção) que matava mulheres de puta vida, esquartejava as bichas e guardava a carne num freezer. Disseram que comiam as mortas para se purificar. Não sei que fim levou esse povo nem esse ‘causo’, mas dizem que isso aconteceu, ainda davam as carnes como ‘de comer’ pros filhos. Eita gente má! E os meninos diziam: ‘não quero comer não, tem gosto esquisito.' 'Ban de ingrato disinfeliz, isso é que oceis são! Tanto sacrifício pra butar carne na mesa e oceis inda num quer cumê? Ora má rapaz!'

Lógico que esse exemplo foi um tanto forçado, mas nele me inspirei para pôr aqui esses pensamentos, e sempre que escrevo nunca tenho 100% de certeza de ter escrito de fato o que quis dizer, por isso reviso n vezes, mesmo assim deve passar um ou outro erro porque revisar uma hora cansa e clico em ‘publicar’, ou com o tempo vamos ficando cegos para os próprios erros, por isso sou grata de todo coração a quem me aponta coisas aqui e acolá que me revele casos tais: escrevi ‘banana’ pensando em ‘Havana’ e o leitor entendeu ‘abana’. Abanar o quê? Pode se dar. Se deu.


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Quer uma prova? Pintei aqui:


Amigas ao telefone, Helena Frenzel.


© 2014 Helena Frenzel. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - Atribuição - Sem Derivações - Sem Derivados 2.5 Brasil (CC BY-NC-ND 2.5 BR). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original (Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Filhos: escolhas, mitos e acusações





Por Helena Frenzel

Há tempos eu vinha ensaiando escrever um post sobre maternidade, mas só agora apertou-me a garganta a ponto de não mais poder postergar.

Maternidade para mim foi uma escolha, algo muito diferente do que se deu com minha mãe e bilhões de mulheres pelo mundo afora, que não tiveram direito a nada, muito menos a escolher. Por isso não acho justo acusarem de ir-contra-a-causa mulheres que optam por ficar em casa cuidando dos filhos, ou que priorizam os filhos à carreira profissional, por exemplo, sob pretexto de estarem contribuindo para a manutenção dos mitos que tentam manter as mulheres presas à lavanderia e ao fogão.

Tornei-me mãe já quase aos quarenta, e nossa filha foi um presente de Deus no tempo certo, veio quando ninguém mais esperava, nem os especialistas, muito menos eu. Um dos médicos que consultei na época me disse: engravidar, como parar de fumar, depende muito mais da cabeça do que dos métodos. Uma questão de fé ou força de vontade. Há coisas que, simplesmente, não têm explicação.

E veio no momento certo porque eu e meu marido havíamos já passado boa parte de nossas vidas cuidando dos interesses próprios, daí dedicar-nos ao cuidado de um filho seria muito natural. Escolhemos então: queríamos ser pais. Por um tempo até acreditamos que não poderíamos, mas a vida nos mostrou que sim, que seríamos e hoje somos e, independente do que nos traga o futuro, jamais deixaremos de ser.

E para bem aproveitar cada etapa no desenvolvimento da nossa filha, tive o privilégio de poder decidir deixar tudo o mais de lado para ficar em casa cuidando dela eu mesma, porque eu simplesmente não queria perder nada nestes primeiros anos, por mais estresse que eu pudesse ter – e houve momentos muito difíceis, mas superamos todos e tê-los vivenciado transformou-nos em ‘pais’.

Sei que muitas mulheres não têm ou tiveram essa escolha, TÊM DE trabalhar MESMO e deixam os filhos crescendo sós ou aos cuidados de outras pessoas. E não escrevo muito sobre este assunto porque creio que para a criação de filhos e relacionamentos não há receitas, cada caso é um caso, o que funciona para mim não serve para um montão de gente e o que funciona para outros, para mim pode não ter o menor valor, mas o que não aceito mesmo é alguém apontar o dedo a outras pessoas ditando como elas devem viver ou não. Quem luta por liberdade e igualdade de homens e mulheres deveria saber que livre é quem pode escolher.


O mais importante é a felicidade da criança, o seu bem-estar. Maternidade rima com responsabilidade, requer tempo, paciência e dedicação. O que eu percebo é que muita gente deseja ter filhos mas não está disposta a ter de renunciar a nada e crê no mito de que assoviar e chupar cana ao mesmo tempo é perfeitamente possível. Pode até ser, mas eu não acredito. Nestes casos, não ter filhos parece-me uma opção mais acertada, sobretudo para a criança, que será poupada de crescer sem a devida atenção dos pais.




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© 2014 Helena Frenzel. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - Atribuição - Sem Derivações - Sem Derivados 2.5 Brasil (CC BY-NC-ND 2.5 BR). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original (Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Saúde e boas leituras então!






© 2014 Helena Frenzel. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - Atribuição - Sem Derivações - Sem Derivados 2.5 Brasil (CC BY-NC-ND 2.5 BR). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original (Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.