Por Helena Frenzel
A escrita, para mim, é
uma forma de manter-me atenta à língua, pois o desafio, a meu ver, é pôr no
papel o que de fato eu quis dizer, e a competência lingüística, aqui não medida
em anos (não ânus) ocupando bancos de escolas, porém no grau de intimidade com
a própria língua, o quão bem se conhece os significados a ponto de, com as
poucas peças que se tem, conseguir dizer exatamente o que se pensou, sem sobra
nem falta. Difícil!
Certa vez, uma blogueira
escreveu que ‘a pior coisa para um escritor era o leitor entender coisas que
ela não teria dito”. E eu penso que literatura é justamente isso: textos que
proporcionam múltiplas interpretações. Texto literário não é texto técnico ou
jurídico, nos quais se busca o que uns chamam de texto ‘preciso’, uma única
interpretação possível e só.
Um exemplo seria alguém
escrever a frase solta ‘vamos jantar vô?’, ter pensado ‘vamos jantar, vô?” e
esperar que o leitor interprete unicamente como um convite. O problema não é o
convite, mas o prato principal, assumindo que o canibalismo é sempre atual. Há
pouco li num jornal o caso de um casal (foi de propósito a construção) que
matava mulheres de puta vida, esquartejava as bichas e guardava a carne num
freezer. Disseram que comiam as mortas para se purificar. Não sei que fim levou
esse povo nem esse ‘causo’, mas dizem que isso aconteceu, ainda davam as carnes
como ‘de comer’ pros filhos. Eita gente má! E os meninos diziam: ‘não quero
comer não, tem gosto esquisito.' 'Ban de ingrato disinfeliz, isso é que oceis
são! Tanto sacrifício pra butar carne na mesa e oceis inda num quer cumê? Ora
má rapaz!'
Lógico que esse exemplo
foi um tanto forçado, mas nele me inspirei para pôr aqui esses pensamentos, e
sempre que escrevo nunca tenho 100% de certeza de ter escrito de fato o que
quis dizer, por isso reviso n vezes, mesmo assim deve passar um ou outro erro
porque revisar uma hora cansa e clico em ‘publicar’, ou com o tempo vamos
ficando cegos para os próprios erros, por isso sou grata de todo coração a quem
me aponta coisas aqui e acolá que me revele casos tais: escrevi ‘banana’
pensando em ‘Havana’ e o leitor entendeu ‘abana’. Abanar o quê? Pode se dar. Se
deu.
* * *
Quer uma prova? Pintei aqui:
Amigas ao telefone, Helena Frenzel.
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