sábado, 15 de março de 2014

A Bluemaedel no Face – Outro capítulo


Essa tela é minha.

Pois é, quem acompanha minhas postagens no facebook – pense muito bem antes de entrar nessa rede, já lhe digo!! Sobrevivi ao Recanto e ao Orkut, mas ao Face... – sabe que tenho reportado a minha luta para reduzir ao máximo a quantidade de tempo que gasto lá dentro. 

O ideal mesmo seria eu nunca ter entrado, e resisti o quanto pude, só me vi obrigada a criar uma conta em 2012, e o fiz porque queria ter acesso a pessoas que estão ali dentro o tempo todo e ignoram tudo o mais que se produz fora. Outro motivo é o fato de que vivo entre dois mundos: moro na Alemanha, onde tenho minha vida real, mas não quero perder os laços com o Brasil e as pessoas queridas que tenho por lá. Ou seja: há a necessidade de saber o que ali ocorre e mais: sinto-me convocada à boa ação. Daí surgiram meus projetos literários: o Quinze Contos Mais, o Sem Vergonha de Contar e o Quintextos, sendo este último o mais ambicioso dos três, o que me exige muita dedicação e me obriga a estar na rede por mais tempo do que eu classificaria como saudável. 

Fato é que um belo dia meu esposo chamou-me a atenção para um comportamento muito suspeito: o mau hábito de TER DE consultar o face antes de ir dormir, uma última vez-inha só. Então passei a me monitorar seriamente. O objetivo era descobrir 1°) o número de acessos diários e o motivo e 2°) a quantidade de tempo gasto para tal. 

A exigência de nunca entrar sem um motivo muito claro já me ajudou bastante, mas não evitou que mesmo assim, uma vez lá dentro, eu perdesse a noção do tempo, já que naquele circo, venhamos e convenhamos, há muitas e boas atrações, uma ferramenta muito bem arquitetada para levar as pessoas a passarem a vida ali dentro, e as facilidades de acesso então, nem se fala, ninguém questiona o que se tornou ‘natural’. 

Então eu tomei um choque e de um tempo para cá passei a testar o meu auto-controle, venho tentando descobrir o quanto ainda me resta do controle que eu achava ter e não tinha há muito tempo, pois se tivesse eu faria o que eu quero e não o que o vício me leva a fazer. Vi, logo nos primeiros dias de abstinência, a minha dificuldade para não acessar em todas as pausas, principalmente antes de ir dormir ou quando estou realizando alguma tarefa enfadonha e o facebook é a ferramenta ‘perfeita’ para dar a sensação de escape da rotina, de respiração. Só que é um ar podre que se aspira e fica lá dentro nos envenando de mansinho, crescendo em nossos pulmões e nos tirando cada vez mais a percepção da realidade. É assim que me sinto no momento: envenada de tanta ‘distração’, sem falar nas propagandas. 

Então, como eu já disse, vejo-me obrigada a permanecer no Face por conta das páginas dos projetos literários e voluntários que lá administro, sobretudo por idealismo. Há muito lixo sendo produzido e eu tenho plena consciência de que tento produzir um conteúdo bom, estou ali para ajudar pessoas, para tentar chamar a atenção para conteúdos de qualidade que encontro fora do Face, e embora o interesse pelos projetos seja ainda mínimo, tirar as páginas do ar por causa dos meus conflitos pessoais não me parece justo e profissional, mas também não me parece justo tentar levar adiante o circo como se nada de mau estivesse acontecendo comigo, como se esse ‘vício’ fosse muito natural no nosso tempo.

Então, enquanto eu estiver passando por essa fase de auto-avaliação e desintoxicação, tentarei acessar menos ainda, entrando só para postar coisas relacionadas aos blogs literários. Farei também uma checagem na lista de amigos (tenho uns 193). Entrarei em contato com cada um e pergutarei se ainda desejam manter contato comigo, principalmente com aqueles que demonstraram interesse no meu trabalho, solicitando   'amizade' mas com os quais nunca troquei uma mensagem.  Caso desejem manter o contato, sempre haverá a opção ‘seguir’, que permite que as pessoas leiam tudo o que eu vier a publicar com o status ‘público’. 

Acredito que amigos de verdade e pessoas de bom-senso entenderão e evitarão cobranças de atenção e curtidas – outra praga desse meio, que leva ao vício e ao desenvolvimento de ansiedade e a um comportamento cada vez mais superficial – Sem perceber, as pessoas estão sempre esperando e cobrando dos amigos virtuais uma imediata reação, paciência é uma palavra que perdeu o sentido, bom-senso também. Assim sendo, recolho-me à minha cela de reabilitação, pois se eu que me achava forte vejo-me agora tão vulnerável, dirá aqueles que não puderam desenvolver-se emocionalmente o suficiente para lidar com vícios e nem têm o hábito de se questionar.  

A vida é uma sucessão de escolhas. Entre aceitar esse comportamento absurdo como algo natural do nosso tempo, - recuso-me a isso insistentemente - escolhi contar o meu caso, e assim me rebelo contra essa sutil forma de dominação.





© 2014 Helena Frenzel. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - Atribuição - Sem Derivações - Sem Derivados 2.5 Brasil (CC BY-NC-ND 2.5 BR). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original (Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.