Algo que sentimos mudar bastante depois que nos tornamos pais
foi o nosso ciclo de amigos. E eu acho isso muito natural, pois as prioridades
e os interesses de quem tem filhos parecem-me bastante distintos daqueles de
pessoas que não querem e/ou não planejam ter descendentes. Eu apenas acho
‘engraçada’ a falta de sensibilidade de alguns.
Eis que certa feita uma amiga me liga contando que semana tal
estaria passando o filme Y no cinema X. Poderíamos nos encontrar um pouco mais
cedo para comer alguma coisa lá pela tardinha, ficar de papo e depois assistir
à sessão das oito, sendo que o diretor do curta estaria presente a partir das
dez para um breve papo.
O devaneio foi mais longe, mas eu já havia deixado de ouvir
muito antes e dito que não era possível, porque tem a menina e tal e ela
sugeriu que eu deixasse com a vizinha e eu: ‘Pô, minha filha não é cachorro,
peralá, e a vizinha deve ter outra programação, além do mais somos uma família,
não posso simplesmente mudar os planos sem consultar os outros envolvidos.’ Aí
parece que ela se zangou comigo e ficamos assim.
Quando uma amizade parece que está morrendo eu fico triste e
lamento, claro, mas antes de mais nada agradeço a Deus por ter nos posto neste
fogo: porque a palha queima, mas o ouro ficará.
"É tão certo quanto o calor do fogo
Eu já não tenho escolha
E participo do seu jogo, e participo"
Trecho de Fogo, Capital Inicial
Errata: Em lugar de 'ciclo de amigos', leia-se: 'círculo de amigos'. Leia também o post que seguiu este, sobre mitos.
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